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Pessoas trans também podem ter família

“Somos um casal lebitrans que luta cotidianamente por uma boa existência”. Conheça a Mel Bevacqua, mãe de júpiter, casada com a Luiza, travesti e feiticeira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Meninas vestem rosa e meninos vestem azul. Família é homem e mulher, e os direitos puf! Frente a esses discursos, a resistência se faz necessária para pessoas que se diferem dos arquétipos ultrapassados impostos pela sociedade.

É uma sucessão de direitos violentados, desde a infância, até a fase adulta. Mas Mel Bevacqua criou mecanismos para reverter esses agentes formadores do preconceito. Começando pelo amor.

O afeto gerou uma família para lá de especial e que rompe qualquer protótipo tradicional. Formada por duas mães feiticeiras, uma transexual e a outra lésbica. O casal traz a narrativa de que pessoas trans podem ser felizes sim! E juntas deram vida a Júpiter. Segundo a Mel, quando se é mãe transgênero é uma experiência distinta da maioria, porém uma cura cotidiana.

“É uma luta ser o casal que somos e a família que somos. Mas escolhemos lutar. Nos alimentamos cada vez mais dessa energia de ocupar o mundo, de sermos vistas e ouvidas, e de produzir espaços para novas realidades”, comenta.

 

Quase toda semana alguém se assusta, e pergunta se Mel ou a Luiza que gerou a Júpiter, e a reposta é positiva. Bevacqua percebe que o fato de ser mãe trans é tão distante que as pessoas sequer imaginam.

A população trans é muito privada da noção de família, e Mel sente que abre esse espaço de alguma maneira, mostrando que é possível essa construção de pluralidades.“Nunca imaginei que fosse tão feliz, fico até boba de falar sobre família, e ajudar tanta gente na posição do meu trabalho também me alegra. Tudo isso sintetiza minha realização”.

Essa intensidade de viver, de existir e resistir é crucial em uma país que mais registra assassinatos de pessoas trans. Mel não suporta conviver com a possibilidade de morte, bem como a expectativa de vida de 34 anos. Em suas palavras, é sufocante e desesperador, como se fosse permitido te matar pelo fato de ser trans. 

A sua esposa Luiza sempre teve um papel importante, principalmente na parte de se sentir bem e confiante na transição. E em decorrência desse amor, a transição foi mais tranquila. “Senti que eu poderia transicionar e que isso seria muito bem visto e bem aceito”, afirma.

Mas sempre foi assim? Não. Mel também teve seus impasses, talvez não tanto no trabalho, por ter seguido carreira autônoma. Mas é importante ressaltar que não é regra uma pessoa trans seguir o script de sofrimento e de estatísticas.

Teve um momento específico da vida, que Mel estava realocada na cidade de Urubici, em Santa Catarina, e precisou se vestir como homem para não passar perigo. Além disso, Bevacqua saiu de casa cedo, antes mesmo de se assumir. Começou esse processo quando tinha 14 anos, mas voltou, e depois partiu de novo. Foram idas e vindas de momentos que esteve e não esteve com sua família.

“Tinha uma questão de gênero sim, mas eu nunca entendia que estava sendo reprimida, eu não entendia muito o que estava acontecendo, vejo que a família foi uma das coisas que mais me atrapalhou de se perceber”.

Ela comenta que nunca reivindicou que a aceitassem, já que saiu antes de se assumir e o contato é muito mínimo com a família. Depois do reconhecimento nas redes sociais, a aproximação surgiu por parte deles como uma admiração.

A discussão da escolaridade também foi um contratempo em sua infância. Mel acredita que escola é um ambiente em que as pessoas fingem que não miram o preconceito e acabam passando pano para violência. Sempre que se mostrava mais feminina na escola, ela apanhava, "São questões que ainda preciso curar e resolver”.

A feiticeira teve uma infância muito restrita e foi se entendendo e se percebendo trans aos poucos. A falta da produção do testosterona fez com que não desenvolvesse qualquer traço masculino de um cis. A disforia de gênero que é tão presente e a causa da inquietude dessa parte da população, não aconteceu com Mel, para ela o corpo sempre a pertenceu.  “Entendo que é difícil, mas nunca passei por isso”.

Foi na altura de seus 19 anos que disse pela primeira vez que era trans. “Se assumir é tudo, é libertador, é excitante, é explosivo. Eu amo com todo meu coração a minha descoberta". A compreensão do que se passava, juntamente com sair do armário foi a solução para todos os problemas que a pairavam.

Todo esse processo de se assumir, segundo a Mel foi o que a tornou uma boa amiga, uma boa mãe e uma boa terapeuta. Ela ainda diz que pessoas trans podem ser bem resolvidas e amadas. Mesmo que os recortes sejam outros. O primeiro passo é abrir o caminho, acreditar nele e decidir trilha-lo.

Como é ser uma mãe trans

“Ser mãe sem amamentar é sobre achar outras vias de carinho e de encaixe. A conexão será outra, será construída em outros padrões. Nós quebramos paradigmas internos, conseguimos dar muita liberdade ás nossas crias, para que elas nunca sejam impedidas de florescerem de sua maneira. Não querendo nunca que sua filha passe por alguma barreira marcante. Esse medo traz uma atenção redobrada e um carinho genuíno. E criar assim com tanta liberdade e cor na família, é um desafio cotidiano na sociedade atual".

Uma novo olhar

A feiticeira tem um jeito leve de ver e viver a vida, na presença de qualquer disseminação de preconceito o conselho é sempre o mesmo: Se conheça, olhe para sua trajetória, veja se essa raiva que você tanto joga nos outros, não é uma raiva que você tenha de você mesma. E se liberte.

 “Um puta ativismo é ser uma pessoa trans feliz, é sorrir no fundo dos olhos fascistas. Um sorriso trans é uma bomba no meio do caos da cidade, é um acolhimento para quem está se descobrindo”.

Em sua rede social, Mel traz sem filtro  a dor e a delícia de ser mãe trans, e trabalhar com feitiçaria. @Meiodaterra.

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