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Falta de estrutura na saúde brasileira para atender transexuai

Enquanto a rede pública peca na estrutura e no número reduzido de médicos capacitados, cerca de 300 transexuais aguardam na fila de cirurgia

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Fonte: Thinkstock

De acordo com dados levantados pelo G1 através da Lei de Acesso à Informação, pelo menos 228 trans estão em listas de espera nos cinco hospitais da rede pública habilitados para cirurgias de transição sexual, conhecidas como cirurgias de redesignação sexual.

O Processo Transexualizador do SUS foi criado em 18 de agosto de 2018, mas até hoje as equipes médicas são pequenas e não conseguem realizar tantos procedimentos. O acompanhamento com cada paciente é de dois anos e depois a cirurgia já pode ser realizada.

Entretanto, a realidade é mais difícil do que parece e a média é de apenas duas cirurgias por mês em apenas cinco hospitais disponíveis no país, localizados em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Recife e Rio Grande do Sul. Ou seja, pacientes da região norte devem viajar para realizar os tratamentos.

Nos últimos 10 anos, segundo o Ministério da Saúde, 153 procedimentos foram realizados no Hospital das Clínicas de Porto Alegre; 118 no HC da Faculdade de Medicina da USP; 88 no HC da UFG, em Goiás; 68 no Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio; e 47 no HC de UFPE, em Recife.

Essas cinco unidades oferecem:

  • Acompanhamento mensal exclusivo para atendimento clínico com equipe multiprofissional e acompanhamento mensal por 2 anos antes da cirurgia e 1 ano depois;

  • Terapia medicamentosa hormonal com estrógeno ou testosterona;

  • Histerectomia com anexectomia bilateral (remoção do útero e de ovários) e colpectomia (retirada da vagina);

  • Metoidioplastia (criação de um pênis a partir do clitóris que cresceu pelo uso da testosterona);

  • Mastectomia simples bilateral (Cirurgia de remoção de ambas as mamas com reposicionamento do complexo aréolo mamilar);

  • Cirurgia de remoção dos testículos com a amputação do pênis e a construção de neovagina;

  • Cirurgia plástica mamária reconstrutiva bilateral incluindo implante de prótese mamária de silicone bilateral;

  • Tireoplastia (cirurgia de redução do pomo de adão para a feminilização da voz e/ou alongamento das cordas vocais).

 

Diferentemente do processo transexualizador, o atendimento ambulatorial (como acompanhamento psicológico, endocrinológico e apoio de um assistente social) é oferecido em outros estados, com seis unidades credenciadas pelo SUS e outras 18 financiadas pelo governo estadual ou municipal. Apenas três unidades (em São Paulo, Campinas e Porto Alegre) se dedicam a prestar serviços preventivos de 3 aos 17 anos.  

A redesignação sexual masculina (transformação do pênis em uma neovagina) é o procedimento mais procurado no pelos pacientes na rede pública e foi a primeira cirurgia para trans do SUS. O procedimento é de alta complexidade e a técnica mais usada é a inversão peniana modificada.

Os médicos removem os testículos e grande parte do pênis. O tecido nervoso é usado para construir o clitóris e com um corte feito entre o reto e a bexiga, eles abrem a neovagina.  Depois da cirurgia, a paciente deve fazer dilatação vaginal para o canal vaginal ganhar profundidade e elasticidade. A etapa é dolorosa, mas se não for feita, pode comprometer os resultados e até mesmo fechar a vagina.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Outra cirurgia procurada com bastante frequência é a redesignação sexual feminina. Também caracterizada como de alta complexidade é feita a remoção da vagina e pode ser feita a metoidioplastia. A cirurgia consiste em liberar o órgão do osso púbico, a uretra é estendida e posicionada ao longo do neopênis. Isso é feito a partir de tecidos mucosos da vagina. Os pequenos lábios protegem o enxerto e dão grossura ao pênis.

 

Além disso, outros procedimentos recorrentes com menos complexidade é a plástica mamária com silicone e a mamoplastia.

Eduardo Mark, jovem de 26 anos, conta que desde criança se sentia como um garoto e desde os cinco anos fazia xixi apenas de pé por pensar que era do sexo masculino. Aos 24 anos de idade descobriu ser transexual depois de conversar com uma psicóloga.  

“Foi bem complicado e demorou anos para eu entender o que de fato estava acontecendo comigo. Muita angústia e tristeza mesmo sem motivos óbvios”, disse Eduardo. Seu maior medo era não ser compreendido pela família, principalmente pelo filho, mas diferente do que esperava, teve total apoio dos familiares e amigos.

Ele deu inicio a hormonoterapia na UBS Santa Cecília, onde teve consultas com um endocrinologista depois de três meses de espera. No Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Guarulhos ele teve acompanhamento psicológico, psiquiátrico, ginecológico e endocrinólogo por oito meses.

A cirurgia de retirada das mamas foi realizada pela rede privada, graças ao convênio médico, e deu a melhor sensação que ele pode ter: sentimento de pertencimento. “Me sinto mais eu. Sensação de que o que sempre esteve por dentro agora está sendo mostrado por fora”.

 

 

 

 

 

 

 

 

Eduardo comenta que o sistema básico de saúde brasileiro não tem estrutura e lembra que a UBS Santa Cecília e o Centro de Referência e Tratamento de DST Aids (CRT) Santa Cruz são lotados e com apenas um endocrinologista para atender todos os pacientes. A espera não é só para procedimentos cirúrgicos, como também para atendimento simples, sendo mais de um mês de intervalo entre a consulta e o retorno.

Por inúmeros motivos, como o alto nível de complexidade, tamanho da fila de espera do SUS, valores altos pela rede privada e medo, outros pacientes optam apenas pela hormonoterapia.

João Daniel, jovem de 21 anos, decidiu começar a tomar hormônios depois de se consultar com uma psicóloga porque sabia dos efeitos colaterais, como a mudança de humor e preferiu se preparar para lidar com o tratamento.

As mudanças foram percebidas a partir de fotos que ele tirava todo mês para comparar os efeitos do remédio. “Foi muito bom quando minha barba começou a crescer porque eu sempre quis ter bigode e cavanhaque”, João comenta.

Ele não teve apoio da família, que ainda o trata como se fosse do sexo feminino, mas com o passar do tempo a mãe conseguiu entender sua transexualidade e os dois mantém uma boa relação.

“Em relação a minha transição eu me sinto realizado. Antes de ser João eu não era ninguém. Eu não conseguia me sentir bem, não me sentia confortável, não gostava do que via no espelho e não gostava de quem eu era. Ser o João foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

João tinha acesso a rede privada de saúde e não conseguiu iniciar o tratamento hormonal porque os médicos disseram que não tinham conhecimento acerca. Além disso, o convênio cobria os custos da mastectomia, mas o pedido cirúrgico foi negado.

É válido lembrar que todo o procedimento de redesignação sexual deve ser feito com acompanhamento médico especializado, já que a superdosagem de hormônios não proporciona mudanças mais rápidas e seu uso tem efeitos colaterais, como irritação, doenças hepáticas, renais e cardiovasculares.  

O Ministério da Saúde estabelece que a idade mínima para procedimentos ambulatoriais seja de 18 anos e para procedimentos cirúrgicos, 21 anos. Você pode ver a portaria do Processo Transexualizador aqui.

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Fonte: Pinterest

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Fonte: Arquivo Pessoal

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