
TRANSFORMANDO VISÕES
No ano de 2018, chegou a 52 candidaturas de pessoas trans. Conheça Erica, negra e pernambucana, primeira deputada estadual eleita na história de São Paulo com 55.223 votos.

Foto: Visões
Na teoria, o termo "política" refere-se a pratica de trabalhar em prol dos indivíduos para compatibilizar interesses de uma sociedade em que todos pensam de maneira diferente. Com isso, dentro do viés democrático representativo do qual vivemos, podemos e temos o dever de escolher aqueles que melhor irão nos representar durante seu respectivo mandato. Contudo, ainda sim, a sociedade escolhe parlamentares dos quais não se sentem totalmente representados, e que acabam sendo influenciados através de um discurso de ódio e preconceito disfarçado por uma linguagem persuasiva.
Segundo dados da ONG Transgender Europe (TGEU), divulgado em Novembro de 2018, o Brasil ainda lidera o ranking dos países que mais matam transexuais no mundo.
Após as eleições de 2018, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), representada por seus 94 deputados estaduais, contém número consideravel de desigualdade de raça e orientação sexual. Segundo o G1, a bancada é formada majoritariamente por homens, que são 81% e brancos 88%. O numero é ainda mais desigual quando nos tratamos da representatividade feminina, representadas por, apenas, 18 mulheres dos 94 deputados ao todo, e negros que são 5% de toda a Assembleia.
Pensamentos conservadores no que diz respeito a representatividade LGBT traz a tona um discurso que deve ser viabilizado no Congresso Nacional.
O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais do mundo. Essas mortes são sempre carregadas de requintes de crueldades: assassinam o corpo físico e assassinam identidade de gênero da população trans ao não reconhecer como legítimas a existência dessas pessoas. Por isso, as candidaturas que se colocaram para a disputa de outubro devem ser reconhecidas como um importante avanço de uma luta que é longa e incessante.
Essa falta de representatividade vem perdendo força ano após ano, já que, em 2018, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), houve 52 candidaturas de transexuais e travestis para cargos eleitorais em todo o Brasil, o que trás a tona o reflexo do tamanho da importância no avanço de uma luta que é longa: dar voz a quem quer ser ouvido.
Erica, negra e pernambucana, foi a primeira deputada estadual eleita na história de São Paulo com 55.223 votos nas eleições do ano anterior. A deputada nos recebeu na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e concedeu um bate papo com nossa equipe.
"É fundamental termos dentro desse modelo político, uma ordem que diz respeito as nossas existências, nossos posicionamentos, nossa cultura, nossos saberes e conhecimentos nesse território. Isto é mais do que necessário no nosso sistema", conta a deputada do PSOL.
Abrindo espaço para a representatividade no que tange todos os aspectos da vida, na política não seria diferente. É importante o reconhecimento para trazer novo debates, novas perspectivas além do que já é pautado em detrimento de grupos fechados que ocupam um maior poder de influência dentro da sociedade brasileira.
A deputada Erica Malunguinho não é sustentada somente por títulos, ela representa toda uma comunidade que sempre foi marginalizada, e que agora possuí uma voz que brande por ela.
“Esse espaço Institucional na Assembleia Legislativa de São Paulo, diz respeito às nossas potencialidades, e o que somos para além das demarcações para além do que nos disseram, para os caminhos que disseram que poderíamos percorrer".
Mas para além dos LGBTI+, Erica conta que existe pessoas fora dessa bolha que votaram nela porque acredita na necessidade da política como inclusão de todos os grupos. São pessoas articuladas que também pensam no outro indivíduo e que reconhecem os problemas que os cercam. Sabe-se que é importante trazer uma referência para que se faça a diferença num país tão desigual.
Uns dos motivo pelo qual fez a deputada arriscar na política vem de muito antes – vem da trajetória de construção. Ela acredita que o “fazer política” está no processo de participação dentro de uma coletividade, com pessoas ocupando espaços, estando em universidades, fazendo arte ou até mesmo numa conversa informal em lugares públicos, abrangendo toda é qualquer forma de expressão, um meio na qual se faz política independente de estar ou não ligada a um partido.“Nós somos o meio político, movimentando a polis, diz.
Expondo algumas diferenciações no processo de entendimento do que é política e politicas, como a “Institucional” colocada por ela desta maneira e de uma forma mais genérica a “política do cotidiano” que também pode estar ligada ao Institucional, mas que não necessariamente dizem respeito a Institucionalidade em termo de poder de Estado. Para melhor exemplificar Erica trouxe o debate sobre desigualdade e conta como foi sua trajetória sendo criada em uma família negra, que levando em conta a construção histórica do nosso país, ela nos propõe a pensar “se é uma família de negros, logo é empobrecida, precarizada em diversos aspectos.” E dentro do seu núcleo familiar essas questões foram marcadas fortemente - sua avó era militante na luta pela terra e sua mãe foi filiada nas ligas campesinas. “O interessante dessa discussão é que eles nunca foram considerados legítimos para entrarem na política institucional dos poderes de Estado”, como ela bem coloca. Já por outro lado a então recente deputada eleita, conta que seu envolvimento político foi dado desde de muito jovem:
“Eu lembro quando eu era criança, a primeira eleição direta, foi entre Lula e Collor, eu peguei uma caixa de sapatos e fui fazer a eleição na rua. Lula ganhou na época. Sempre fui chamada na escola para debater temas de políticas institucional. Sempre me envolvi, sempre militei de forma independente, mas nunca fui vinculada partidariamente."
O longo caminho antes percorrido até a chegada a Assembleia Legislativa, Erica também foi educadora por muito tempo, lecionava aulas para crianças, adolescente e adultos. Acredita no poder de transformação que a educação pode proporcionar na vida das pessoas, com o compartilhamento de saberes, nas instituições educativas que estejam implicadas com a inquietação e a revolta em relação a esse sistema que tanto excluí.
“A escola deve ser um lugar condutor para reparação e reequilíbrio dessas distopias sociais".
E foi através das organizações políticas como a luta do movimento negro, a comunidade LGBT, a religião do candomblé no processo de construção de ancestralidade, no aprendizado da cultura brasileira, principalmente a ligação com a arte que foram tecendo a construção da deputada.
E desta maneira que ela se coloca em defesa de pautas que poucos se arriscam, e de fato possuí grande determinação para lidar a cerca desses assuntos. Destrinchando um pouco de todos temas já citados, temos a noção de quilombo, que para além de seu significado, também têm ligação com todas as formas de organização e compartilhamento do saberes que é construído dentro de uma coletividade, e é através da comunicação que se possibilita esse processo, é claro. Cada dissociação que integra um núcleo de saber agregando-se ao todo leva a entender o papel de representatividade no representar algo ou alguém por meio de princípios, são lutas históricas constantes por espaços e por direitos básicos.
E é dentro da esfera Institucional política temos diversos grupos que atende a determinados interesses, e nela está incluído as mulheres, que ainda são minoria. O Brasil no ranking de participação das mulheres na política está no 156º posição, o que explica esse fato, percorre Erica nessa linha de pensamento, é o que é feito de políticas públicas voltadas as mulheres, e aos negros e LGBT’s também, envolvem diretamente outros grupo que participam do jogo político que diz muito a respeito sobre o quadro atual, seria indiretamente proporcional quando se têm cadeiras ocupadas só por homens, e também implica nas ocupações de mulheres que alcançaram esse poder e tem a voz para representar essa minoria, mas mesmo assim proferi o mesmo tipo de discurso não mudando em nada as regras.
“Pouco se vê motivação das estruturas de poder e de quem já está no poder, pouco se vê em termos de empatia e sensibilidade para ceder espaços para dar voz. Normalmente o que vemos é os mesmos discursos", declara.
“Lugar de poder”
O Aparelha Luzia remete do surgimento do erro do ponto de vista da sociedade, ou seja, seu surgimento nasceu a partir dessa ideia da necessidade de resposta às essas problemáticas, diz Erica. E é a partir do espelho de radicalidade que Malunguinho traduz a alternância de poder, num processo de descolonização das ideias, onde poucos negros tem um papel de poder importante dentro da sociedade, que os lugares para negro, mulheres e transexuais são lugares subalternos sem qualquer oportunidade de participação, não há participação. Entre os governos ditos de esquerda no Brasil não tivemos muitos avanços nesse sentido, apenas em 2010 tivemos a primeira mulher eleita Dilma Rousseff que sofreu impeachment em 2015. E nessa linha tênue que caminhamos com a falta de representantes que inclua também pessoas negras, indígenas, LGBT. Malungo também diz que falta incentivos nos partidos, e que sua campanha toda foi custeada de forma independente, e ressaltou que a esquerda ainda reproduz os mesmos padrões de gênero, sexualidade e classe.
“Nós somos interessantes, mas está ai exatamente o ponto, somos sempre as destinatárias das políticas, mas nunca somos as protagonistas.Só teremos uma esquerda brasileira enquanto entendermos raça e gênero como um fundamento e não como um recorte", afirma.
E é nesse ponto de inclusão que o Aparelha Luzia trás um lugar acolhedor e participativo, ocupado por pessoas negras, um lugar de resistência da negritude, um centro cultural/político urbano em São Paulo, fundado em Abril de 2016 pela idealizadora e gestora Erica Malunguinho, para que seja um ponto de encontro com artistas, e por ter justamente essa ligação com a arte que todo o espaço foi pensado por ela e hoje possuí uma grande visibilidade e diversidade em virtude de projetos realizado.

Foto: Diana Araújo e Vitor Martins/Visões
Coletiva de Imprensa para estudantes na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) / Por: Visões - 29/4/2019